Capa do livro

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quarta-feira, 12 de março de 2014

Mistério

Folha de São Paulo
QUARTA-FEIRA, 12 DE MARÇO DE 2014
Um mistério de 35 anos
Em 1979, um avião da Varig desapareceu sobre o Pacífico, após decolar do Japão; os destroços e os corpos de seis pessoas nunca foram achados
RICARDO GALLO
DE SÃO PAULO


Fazia 33 minutos que o Boeing-707 da Varig havia deixado o aeroporto de Narita, no Japão, rumo a Los Angeles, nos EUA, quando a aeronave perdeu contato com o controle de tráfego aéreo.

Mais de 35 anos depois, isso é tudo o que se sabe do voo 967, um dos maiores mistérios da aviação mundial.

Presume-se que o avião, um cargueiro, tenha caído em algum lugar do Pacífico próximo ao Japão, em uma área de mar profundo. Os corpos dos seis tripulantes nunca foram encontrados, tampouco os destroços da aeronave.

Não foi muito distante de onde desapareceu o avião da Malaysia Airlines, observa a médica Maria Letícia Chavarria, 62, de Goiânia.

Ela tem boa memória do episódio: quem comandava o 707 naquela noite de 30 de janeiro de 1979 era o pai dela, Gilberto Araújo da Silva.

O avião havia decolado às 20h23 de Narita e fez o último contato com o controle de tráfego aéreo às 20h55. Um novo contato previsto para as 21h23 não ocorreu, indício de que havia algo estranho.

Tentou-se contato com o avião, mas ninguém respondeu. Pela rota, o voo deveria passar por Honolulu (Havaí) e Anchorage (Alasca), mas a aeronave não estivera lá.

Na manhã seguinte, começaram as buscas no Japão. Avisada pela Varig, Maria Letícia foi com dois irmãos a Los Angeles, para acompanhar a tentativa de resgate.

Aviões americanos e embarcações japonesas vasculharam a área onde o avião provavelmente caiu. Uma semana depois, o resgate foi encerrado, sem êxito.

"Foi muito triste", diz Maria Letícia. "Uma comissão da Varig nos disse que não íamos poder enterrar meu pai porque o corpo --e o avião-- não havia sido encontrado."

O difícil, diz, é elaborar a morte quando não há corpo para chorar. "Fica sempre uma mescla de sentimentos: expectativa, tristeza, às vezes esperança. Nosso consolo é que ele falava que queria morrer voando."

Semana passada, Maria Letícia passou por Los Angeles em uma viagem a trabalho. "Quando o avião decolou e vi o oceano Pacífico, lembrei do meu pai. Na minha memória, o Pacífico é o túmulo dele."

Ronaldo Jenkins era major da Aeronáutica na ocasião, a serviço do Departamento de Aviação Civil. Ele participou da investigação do acidente e foi a Los Angeles e Tóquio acompanhar as tentativas de localização da aeronave.

"Foi um acidente aeronáutico presumido, porque não havia evidência; não se achou o avião", afirma ele, hoje diretor técnico da Abear.

Na história da aviação, 109 aviões desapareceram, segundo a Aviation Safety Network --não houve nenhum outro caso com aeronave do porte do Boeing da Varig.

O relatório sobre o acidente foi inconclusivo. Maria Letícia ouviu da Varig que uma das hipóteses foi que o avião pode ter se despressurizado em voo, o que levou a tripulação a perder a consciência aos poucos --o avião, por essa versão, voou no piloto automático até o combustível acabar. Então, caiu no mar.

Outras teorias surgiram, como a de que a aeronave havia sido abatida ao entrar em espaço aéreo soviético.

A aeronave saiu do Japão com 20 toneladas em cargas como peças para computador e 53 obras do artista Manabu Mabe (1924-1997), avaliadas à época em US$ 1,2 milhão. Deveria ter passado por Los Angeles, Panamá e Rio.

COINCIDÊNCIA

Foi o segundo desastre com o comandante Gilberto. Seis anos antes, ele havia conseguido pousar outro Boeing-707 da Varig em uma plantação de cebolas perto do aeroporto de Orly, na França.

A aeronave, com 123 passageiros, pegou fogo pouco antes de pousar, provavelmente por um cigarro aceso deixado no banheiro, o que mudaria as regras de aviação quanto ao fumo a bordo.

Houve 11 sobreviventes, dos quais só um passageiro --a maior parte morreu asfixiada. A destreza de Gilberto em pousar um avião em chamas lhe rendeu condecorações no Brasil e na França.

O piloto deixou sete filhos, um deles comandante da Gol.

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