Querida Cláudia
Acabei de ler seu livro “Estrela
Brasileira.” Adorei-o. Sua leitura me envolveu totalmente. Por isto eu digo:
Obrigada por essa alegria. Obrigada por me fazer, através do seu relato,
lembrar e reviver detalhes já adormecidos em minha mente. E obrigada também por
esclarecer a triste e absurda decadência da nossa querida VARIG. Na época eu só
pude lamentar profundamente sem poder acompanhar a trajetória passo a passo,
pois já estava morando na Alemanha.
O seu livro quem me presenteou e me
enviou foi a Dalva Pinheiro, a comissária a quem você e sua irmã Beatriz
passaram o apartamento da Gomes Carneiro, lembra? A Dalva e eu dividimos aquele
pequeno apartamento até que o barulho terrível do trânsito me venceu e após um
ano me mudei, mas a Dalva morou nele por muitos anos. Apesar de ela ter mudado
para a VASP, nossa amizade se prolonga até os dias de hoje. Atualmente ele mora
em Pelotas no sul, sua terra natal e em um dos nossos telefonemas ela me falou
sobre o seu livro dizendo: “Fanny você precisa ler o livro que a Cláudia
escreveu“ É maravilhoso! Agora eu posso dizer o mesmo!
Parabéns pelo seu
estilo e alto nível literário e também de informação e pesquisa histórico-sociológica,
aperfeiçoando e acrescentando ao leitor conhecimentos não somente em relação às
coisas técnicas da aviação, mas também como cultura geral, transmitindo com
exatidão e emoção suas impressões sobre a cultura, arquitetura e o
comportamento de outros povos.
Cláudia, o seu livro
realmente me emocionou, identificando-me em tudo que você fala da nossa querida
VARIG. Apesar de eu não ter “vestido a camisa“ tanto quanto você, eu também a
amava e tinha orgulho de ser comissária da VARIG. Sem dúvida foi uma bela
profissão, mesmo sendo um trabalho extremamente estressante. Com tudo sou grata
a ELA, pois me proporcionou a possibilidade de conhecer outros países com suas
culturas e arquiteturas diferentes. Realmente, sem a VARIG eu não teria alçado
“voos tão altos”, em todos os sentidos. A VARIG pode ter sido uma mãe para nós
todos, mas com certeza fomos boas filhas, você não acha?
Eu também como você
tive muitos momentos agradáveis à bordo, recebendo elogios verbais por parte
dos passageiros, que ao despedirem-se, muitos deles, beijavam a minha mão em
agradecimento. Isto é que tinha importância para mim, ver o passageiro
satisfeito pelo meu atendimento. Não foram poucas as vezes em que através de
nossa dedicação e atenção dada à eles durante o vôo, conseguíamos mudar sua
opinião e humor, quando entravam furiosos com o mau atendimento em terra.
Saí da VARIG em 1989
quando casei e até hoje 23 anos após eu ainda sonho à noite, com frequência,
com a aviação. São sonhos angustiantes, pois eu sempre me atraso para o voo ou
está faltando ora a bolsa, a mala ou sapatos etc. Outras vezes trabalho
exaustivamente à bordo, mas usando ainda o uniforme da época. Acontece isto
também com você? Eu acho que estas sequelas psicológicas são causadas pela
rígida disciplina e a constante preocupação com a pontualidade.
Mesmo após ter deixado
a VARIG eu continuei viajando com meu marido, como passageira da “First Class”.
Posso dizer que conhecia os dois lados da VARIG. Quando morei por 2 anos em
Zurique, a loja da VARIG era também para mim um ponto de referência, passava
por lá toda a semana e recebia jornais e revistas do Brasil. O atendimento VIP
em terra de Zurique era excelente.
Viajávamos também na “First
Class” da SWISSAIR e o serviço era tão bom quanto o da VARIG. Nunca poderia
imaginar que excelentes empresas aéreas como VARIG e SWISSAIR um dia teriam
este triste desfecho. A razão que acarretou o fechamento da SWISSAIR foi toda
denunciada numa grande reportagem da TV Suíça que eu assisti aqui chocada. O banco
UBS, por interesses próprios, foi o causador de tudo isso.
Cláudia, à medida que
eu ia lendo o seu relato sobre o declínio da VARIG, revolta e indignação
cresciam dentro de mim pelo absurdo da situação e o pouco caso por parte dos
governantes. Foi uma grande perda, uma lacuna profunda na história brasileira.
Eu não sabia que tudo o
que você denunciou havia se passado com o AERUS. Fiquei abismada! Não tinha
idéia da dimensão dramática e suas consequências para seus associados. É
lamentável que exista tanta corrupção neste país. É nessas ocasiões que a gente
se envergonha de ser brasileira!!!!!!!
Moro desde 2001 no sul
da Alemanha, na região do Lago de Constance que é muito bonita, mas sinto falta
do clima e os dias ensolarados do Brasil e do céu sempre azul do Rio de
Janeiro.
Eu lhe desejo tudo de
bom e mais uma vez muito obrigada pelo prazer e contentamento que você me deu
com o seu livro.
Um grande abraço e muitos beijos da Fanny.
PS: Apelidada carinhosamente pelos colegas de “Fanny
maravilha“ ou “Fanny big house“