DA ÁGUA PARA O VINHO
No desastre da Serra do Mar, a serra virou mar... Mar de lama, corpos, desabrigados e carros
amontoados.
Naquele 12 de janeiro, o Rio de Janeiro assistiu
estarrecido o pior deslizamento da história do país. A combinação de fortes
chuvas com condições geológicas características da região, aliadas a ocupação
irregular, provocou uma verdadeira tsunami, levando na sua cauda árvores e
pedras. As casas viraram móbiles ao sabor do desvario da natureza. Dezenas de
pessoas foram carregadas nos ombros do barro pavoroso. Mortos multiplicavam-se.
A desgraça não dava trégua, desfazendo famílias, casas e sonhos.
Eu não conseguia sair de casa. Sofria as dores dos
habitantes a cada take televisivo.
Mas uma cena em especial tirou-me o fôlego: - a Pousada Tambo Los Incas fora
arrasada, tendo as águas alcançado o teto do estabelecimento. Estabelecimento?
Não, não pode ser classificada desse modo. O lugar era um pedaço do paraíso. A
construção rústica, aliada ao conforto do moderno, foi a antiga Fazenda Santo
Antônio da Providência e guardava a história da origem da pousada, como consta
no antigo site: - “A
idéia que deu origem ao Tambo Los Incas começou a se delinear no inicio da
década de 1980, quando o seu fundador, Zizinho Leite Garcia, retornou de uma
estadia em Lima, no Peru. Apaixonado pela cultura inca, Zizinho conseguiu
trazer na mala do seu Chevrolet, em 3 longas viagens, uma pequena, mas
expressiva, coleção de cerâmicas pré-colombianas ou huacos –
hoje expostas na sala principal da pousada. Deu à sua pousada o nome de Tambo que,
na língua quéchua,
falada pelos antigos incas, significa um pouso para o descanso, uma cabana com
água e comida em abundância.”
Eu estive lá várias vezes e a paixão
pelo lugar, atendimento, quartos com móveis originais de época, adega e
restaurante de tirar o chapéu e deixar a baba escorrer, davam-me a certeza que
o “conjunto da obra” pertencia ao gênero estupendo. O vigia conseguiu safar-se
a tempo, mas o que ali estava de material virou maçaroca indescritível. Não
sobrou garrafa de vinho sobre pedra, móveis sobre barro, gansos sobre lama,
tocheiros sobre água. O paraíso ganhara ares de inferno. E meus fins de semana
mais pobres.
O tempo passou,
mas jamais a lembrança do lugar. Insistente que sou, resolvi neste domingo
verificar se a Pousada havia reaberto. Subi a serra e em pouco tempo já estava
no Vale do Cuiabá. A poucos metros da pousada uma casa/restaurante chamou-me a
atenção. Linda e amarela entre os ciprestes. Continuei. A visão do lugar
devastado mordeu de jeito a beirada da alma. Agora, só as fotografias tiradas
em minhas idas àquele lugar poderiam preencher o vazio. Só restara a entrada de
pedra. Ali, dei meia volta com o carro. O estômago já roncava e o olhar
comprido para o que vira antes na estrada me fez estacionar em frente ao
Restaurante 2 Vales, aquele da casa amarela.
Meu pé parou
quando a porta do lugar foi aberta. Deslumbrante! Não tive dúvida em dizer ao maitre que estava à procura de um bom
restaurante. Ele sorriu, simplesmente. Escolhida a mesa, ele trouxe o cardápio
e a carta de vinhos. Abri o primeiro e choquei. Nele constava a história do
restaurante. Pasme. A equipe do lugar é composta pelos antigos funcionários do
Tambo Los Incas, que se reuniram após a tragédia para dar continuidade àquilo
que sabiam fazer: - atender com sofisticação e brindar os clientes com produtos
de qualidade.
A determinação, coragem
em enfrentar desafios, capacidade de trabalhar harmoniosamente em equipe foram
recompensadas pelos clientes assíduos como o arquiteto e decorador de
interiores Chicô Gouveia, que os brindou com uma decoração original e elegante.
O lugar é dos
deuses e a equipe composta por Wellington, André, Angelo, Sergio, Marilene,
Rita e Regina merecem um lugar ao sol de Itaipava. E eu fins de semana
inesquecíveis. E não a toa o restaurante localiza-se no Vale da Boa Esperança.
2 Vales
Restaurante & Deli
Estrada Ministro
Salgado Filho, nº 255 – Vale da Boa Esperança – Petrópolis
(24)2222-0753
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