O Brasil ainda não pagou até hoje a conta pela falência da
Varig
13/07 - 12:09
Por: Luiz
Marcos Fernandes
Depois de 12 anos no cargo, que serão completados em outubro deste ano,
o engenheiro Fernando Pinto, presidente da Tap - maior aérea portuguesa -
aguarda a privatização da companhia para encerrar seu ciclo à frente da mesma.
Na opinião dele, este processo será benéfico para a empresa, pois lhe dará
maior lastro de capital. No balanço de sua gestão, Fernando Pinto destaca os
resultados alcançados e que tiveram como âncora a estratégia de apostar nos
mercados do Brasil e África, além de transformar Lisboa no hub da Tap.
Já em relação ao mercado da aviação no Brasil, o dirigente vê com boas perspectivas a criação da Latam, bem como o consórcio entre Trip e Azul. Mesmo com o crescimento da Tam, Fernando Pinto, que em sua trajetória profissional esteve à frente da Rio-Sul e da Varig, antes de assumir a Tap, lamenta os prejuízos causados pela falência da antiga Varig e que, segundo ele, ainda refletem na perda de mercado do Brasil, principalmente no cenário internacional. Confira aqui sua entrevista.
M&E – O senhor completa em outubro 12 anos na presidência da Tap, uma empresa que enfrentava, na ocasião, sérios riscos de fechar suas portas. Que balanço faz de sua gestão e qual estratégia que levou a companhia a se recuperar?
Fernando Pinto – De fato encontrei a Tap numa situação bem crítica, mas tinha certeza de que com a estratégia comercial e de planejamento adequada poderíamos recuperar a empresa. E isso veio a acontecer. Considero que ao longo de todos esses anos tem sido um desafio importante. Entre os aspectos que merece destaque está a consolidação do hub de Lisboa e a estratégia de apostar em mercados como o Brasil e África. Para se ter uma ideia, apesar de continuarmos a ter o nosso foco principal na Europa, que responde por pelo menos 60% das nossas operações, temos atualmente 70 frequências semanais para a África e 74 para o Brasil, mostrando o quanto esses mercados foram importantes e comprovando, pelos resultados alcançados, que foi uma decisão acertada e que ajudou muito na recuperação da companhia, uma vez que permitiu a interligação destes dois continentes com os países europeus.
M&E – O processo de privatização da Tap parece ser mesmo inevitável, a exemplo do que ocorreu com outras companhias. E o que acha de uma fusão com outra companhia? Como vê os benefícios deste processo que despertou até o interesse da Avianca Brasil?
Fernando Pinto – Acho que o processo de privatização será benéfico, pois é uma fonte de capitalização que pode certamente vir a fortalecer a companhia. Apesar de termos tido bons resultados, o nosso lastro de capital é ainda muito baixo e certamente a privatização da empresa poderá contribuir para fortalecer a Tap. O caminho deste processo ainda não está definido. Hoje em dia você vê modelos de fusão e esta também pode ser uma alternativa. Há muitas variáveis a se considerar. Soube que a Avianca Brasil fez uma sondagem, mas seria prematuro falar em interesse de compra, pois as regras ainda não foram definidas. O importante mesmo em tudo isso é que haja o maior número possível de interessados. Isso sim é importante, porque desse modo, a Tap poderá escolher o que for melhor para o futuro da companhia.
M&E – E por falar em futuro. O senhor, que está há mais de uma década à frente da Tap, teria interesse em continuar após o processo de privatização?
Fernando Pinto – Como eu disse, as regras não estão definidas. Mas mesmo assim o meu pensamento é deixar a presidência da Tap assim que o processo estiver consolidado. Creio que já dei minha contribuição. Quanto ao meu futuro eu também não decidi nada ainda. A única certeza é de que não tenho planos de continuar à frente da Tap.
M&E – A crise econômica certamente afeta diretamente a aviação comercial. Como a Tap vê a situação na Europa e quais os caminhos alternativos para não ser afetado pelo impacto desta crise?
Fernando Pinto – Não há como não deixar de ser afetado pela crise. Ela afeta todos os setores da economia, incluindo a aviação, tanto no mercado de lazer quanto negócios. Temos procurado acompanhar de perto o desenrolar dessa crise e acredito que possamos mesmo nesta turbulência manter nossas taxas de crescimento, com maior realismo, é claro, e sem euforia. Um dos fatores que me faz acreditar nisso é o preço do combustível de aviação que não foi tão afetado até agora. O importante é procurar ter uma estratégia apostando em mercados menos afetados como o próprio Brasil, sem abandonar nossas operações para os demais destinos.
M&E – E em relação ao Brasil, desde a crise e falência da antiga Varig que a aviação comercial ainda procura ocupar seus espaços. O senhor acredita que ainda pagamos um alto preço pelo modo como se deu o processo de interrupção dos voos da Varig?
Fernando Pinto – Eu diria que ainda não acabamos de pagar essa conta. Apesar de reconhecer o excelente trabalho realizado pela Tam na sua estratégia de expansão para o mercado internacional, é inevitável observar que o Brasil ainda não conseguiu retomar a posição de destaque que tinha no mercado internacional e nem restabelecer as rotas que a antiga Varig operava. O resultado de tudo isso é que o Brasil recebeu desde então menos turistas e perdeu em divisas. Não se pode querer restabelecer um mercado construído ao longo de quase sete décadas, de uma hora para outra. É um longo caminho e ainda pagamos pelos erros do passado. A própria Tap se aproveitou do mercado do Nordeste que estava praticamente esquecido para explorar suas rotas obtendo excelentes resultados.
M&E – Como o senhor vê o futuro da aviação comercial no Brasil, que apresenta um novo desenho com fusões e consórcios como a criação da Latam e, mais recentemente, da Azul com a Trip?
Fernando Pinto – Eu acho que esse é o processo natural das coisas. As empresas aéreas estão buscando alternativas para reduzir seus custos e ao mesmo tempo obter maior representatividade e também um número maior de operações. Acho que há espaço para isso ainda mais num país de grandes dimensões continentais. A própria aviação regional é um segmento que ainda tem muito para crescer e num futuro próximo pode ter perfeitamente voos com destino a países de fronteira. O Brasil mudou sua imagem no exterior e é visto como um país emergente. Os megaeventos como Copa e Olimpíadas exigem que se tenha também uma infraestrutura adequada e, neste quesito, entram a melhoria dos aeroportos com as concessões ao setor privado. É capital que entra para novos investimentos e quem ganha com tudo isso é o consumidor.
M&E – A entrada de novas companhias na Star Alliance, como a AviancaTaca e a Copa Airlines, significa uma nova tendência de mercado onde as empresas procuram ampliar seu leque de atuação?
Fernando Pinto – Certamente que sim. Afinal de contas, ganham as empresas que têm maior poder de operação e redução de custos e ganham também os passageiros que podem usar milhas compartilhadas e voos de conexão. Outras empresas já estão em processo de análise para ingressar na Star Alliance, que atualmente forma uma aliança com algumas das principais companhias aéreas mundiais.
Já em relação ao mercado da aviação no Brasil, o dirigente vê com boas perspectivas a criação da Latam, bem como o consórcio entre Trip e Azul. Mesmo com o crescimento da Tam, Fernando Pinto, que em sua trajetória profissional esteve à frente da Rio-Sul e da Varig, antes de assumir a Tap, lamenta os prejuízos causados pela falência da antiga Varig e que, segundo ele, ainda refletem na perda de mercado do Brasil, principalmente no cenário internacional. Confira aqui sua entrevista.
M&E – O senhor completa em outubro 12 anos na presidência da Tap, uma empresa que enfrentava, na ocasião, sérios riscos de fechar suas portas. Que balanço faz de sua gestão e qual estratégia que levou a companhia a se recuperar?
Fernando Pinto – De fato encontrei a Tap numa situação bem crítica, mas tinha certeza de que com a estratégia comercial e de planejamento adequada poderíamos recuperar a empresa. E isso veio a acontecer. Considero que ao longo de todos esses anos tem sido um desafio importante. Entre os aspectos que merece destaque está a consolidação do hub de Lisboa e a estratégia de apostar em mercados como o Brasil e África. Para se ter uma ideia, apesar de continuarmos a ter o nosso foco principal na Europa, que responde por pelo menos 60% das nossas operações, temos atualmente 70 frequências semanais para a África e 74 para o Brasil, mostrando o quanto esses mercados foram importantes e comprovando, pelos resultados alcançados, que foi uma decisão acertada e que ajudou muito na recuperação da companhia, uma vez que permitiu a interligação destes dois continentes com os países europeus.
M&E – O processo de privatização da Tap parece ser mesmo inevitável, a exemplo do que ocorreu com outras companhias. E o que acha de uma fusão com outra companhia? Como vê os benefícios deste processo que despertou até o interesse da Avianca Brasil?
Fernando Pinto – Acho que o processo de privatização será benéfico, pois é uma fonte de capitalização que pode certamente vir a fortalecer a companhia. Apesar de termos tido bons resultados, o nosso lastro de capital é ainda muito baixo e certamente a privatização da empresa poderá contribuir para fortalecer a Tap. O caminho deste processo ainda não está definido. Hoje em dia você vê modelos de fusão e esta também pode ser uma alternativa. Há muitas variáveis a se considerar. Soube que a Avianca Brasil fez uma sondagem, mas seria prematuro falar em interesse de compra, pois as regras ainda não foram definidas. O importante mesmo em tudo isso é que haja o maior número possível de interessados. Isso sim é importante, porque desse modo, a Tap poderá escolher o que for melhor para o futuro da companhia.
M&E – E por falar em futuro. O senhor, que está há mais de uma década à frente da Tap, teria interesse em continuar após o processo de privatização?
Fernando Pinto – Como eu disse, as regras não estão definidas. Mas mesmo assim o meu pensamento é deixar a presidência da Tap assim que o processo estiver consolidado. Creio que já dei minha contribuição. Quanto ao meu futuro eu também não decidi nada ainda. A única certeza é de que não tenho planos de continuar à frente da Tap.
M&E – A crise econômica certamente afeta diretamente a aviação comercial. Como a Tap vê a situação na Europa e quais os caminhos alternativos para não ser afetado pelo impacto desta crise?
Fernando Pinto – Não há como não deixar de ser afetado pela crise. Ela afeta todos os setores da economia, incluindo a aviação, tanto no mercado de lazer quanto negócios. Temos procurado acompanhar de perto o desenrolar dessa crise e acredito que possamos mesmo nesta turbulência manter nossas taxas de crescimento, com maior realismo, é claro, e sem euforia. Um dos fatores que me faz acreditar nisso é o preço do combustível de aviação que não foi tão afetado até agora. O importante é procurar ter uma estratégia apostando em mercados menos afetados como o próprio Brasil, sem abandonar nossas operações para os demais destinos.
M&E – E em relação ao Brasil, desde a crise e falência da antiga Varig que a aviação comercial ainda procura ocupar seus espaços. O senhor acredita que ainda pagamos um alto preço pelo modo como se deu o processo de interrupção dos voos da Varig?
Fernando Pinto – Eu diria que ainda não acabamos de pagar essa conta. Apesar de reconhecer o excelente trabalho realizado pela Tam na sua estratégia de expansão para o mercado internacional, é inevitável observar que o Brasil ainda não conseguiu retomar a posição de destaque que tinha no mercado internacional e nem restabelecer as rotas que a antiga Varig operava. O resultado de tudo isso é que o Brasil recebeu desde então menos turistas e perdeu em divisas. Não se pode querer restabelecer um mercado construído ao longo de quase sete décadas, de uma hora para outra. É um longo caminho e ainda pagamos pelos erros do passado. A própria Tap se aproveitou do mercado do Nordeste que estava praticamente esquecido para explorar suas rotas obtendo excelentes resultados.
M&E – Como o senhor vê o futuro da aviação comercial no Brasil, que apresenta um novo desenho com fusões e consórcios como a criação da Latam e, mais recentemente, da Azul com a Trip?
Fernando Pinto – Eu acho que esse é o processo natural das coisas. As empresas aéreas estão buscando alternativas para reduzir seus custos e ao mesmo tempo obter maior representatividade e também um número maior de operações. Acho que há espaço para isso ainda mais num país de grandes dimensões continentais. A própria aviação regional é um segmento que ainda tem muito para crescer e num futuro próximo pode ter perfeitamente voos com destino a países de fronteira. O Brasil mudou sua imagem no exterior e é visto como um país emergente. Os megaeventos como Copa e Olimpíadas exigem que se tenha também uma infraestrutura adequada e, neste quesito, entram a melhoria dos aeroportos com as concessões ao setor privado. É capital que entra para novos investimentos e quem ganha com tudo isso é o consumidor.
M&E – A entrada de novas companhias na Star Alliance, como a AviancaTaca e a Copa Airlines, significa uma nova tendência de mercado onde as empresas procuram ampliar seu leque de atuação?
Fernando Pinto – Certamente que sim. Afinal de contas, ganham as empresas que têm maior poder de operação e redução de custos e ganham também os passageiros que podem usar milhas compartilhadas e voos de conexão. Outras empresas já estão em processo de análise para ingressar na Star Alliance, que atualmente forma uma aliança com algumas das principais companhias aéreas mundiais.
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