Centenas de
biografias poderão ser escritas sobre Joaquim Barbosa. Nenhuma adentrará a alma
do menino pobre do noroeste de Minas. Só sabe a dor da desigualdade social quem
a sofreu na carne. O país que não cuida de nivelar as classes sociais,
permitindo aos menos favorecidos acesso à educação, jamais poderá ser chamado
de justo.
É preciso
gana, é preciso coragem, para mudar o curso da história pessoal como o senhor fez.
O Brasil
assistiu recentemente não a cura para todos os males com as sentenças dos
participantes da quadrilha do mensalão, mas a certeza que a impunidade para os
poderosos chegou ao fim. A luz sinalizadora desta guinada veste toga e é
afrodescendente. É culto e sem muita paciência. E devo salientar que apesar de
ter sido indicado ao STF pelo Lula, não se deixou levar por tal, cumpriu o
papel que a Nação esperava dele: foi coerente e honesto.
Esse perfil me
leva a crer que nenhuma injustiça será cometida no período em que o senhor
estiver na presidência do mais alto tribunal do país.
Claro, quero
parabenizá-lo e desejar vida longa no cargo. Chegar aonde chegou (só Deus e poucos
chegados sabem as agruras passadas durante esse percurso) requer tenacidade,
fibra e foco no objetivo.
Citei “justo”
e “justiça” no texto acima, exatamente para que a adjetivo e o substantivo
feminino fossem enfatizados na sua conduta ilibada, mas também para lembrar sua
importância na vida dos aposentados e pensionistas da Varig, na ação do AERUS,
a qual não irei discorrer, pois já é de seu conhecimento.
Tenho certeza
que V. Excia. desconhece nossos problemas, apesar de já tê-los sentido de outra
forma nos tempos de menino e estudante pobre. Há uma frase de Makota Valdina
que é apropriada para o que contarei: “Não sou descendente de escravos. Eu
descendo de seres humanos que foram escravizados.” Pois bem, caro Ministro,
hoje o contingente de aproximadamente 10.000 pessoas idosas encontra-se
escravizado, pois lhes foi tirado o direito da cidadania. Se a cada dia somos
informados que a decisão do juiz Dr. Jamil Rosas de Jesus Oliveira será
cumprida e ao término do mesmo dia somos bombardeados com mais um impasse e
recursos da União, a angústia transforma-se em desespero na medida em que o
pouco que ainda recebemos do Aerus não suporta o pagamento de plano de saúde,
de hospitalizações, de remédios, de psiquiatras e outras modalidades médicas,
tampouco de alimentação e transporte. Além da adaga pendurada sobre nossa
cabeça anunciando que nos próximos meses nem esses tostões do AERUS
receberemos, pois o Fundo de Pensão não terá mais recursos. Não tenho a
intenção de ficar fazendo loas ao nosso passado de “embaixadores do Brasil”, de
sermos responsáveis pela entrada de divisas para o país, tampouco de termos
trabalhado mais de 30/40 anos para uma empresa que foi símbolo do Brasil. O que
me move é lembrá-lo que contribuímos para o Aerus e que a Secretaria de Previdência
Complementar autorizou 21 contratos ilegais entre o Fundo e nossa empresa e NÓS
NÃO somos os responsáveis por terem dado rumo escuso às contribuições
regiamente descontadas de nossos salários. Tampouco somos os responsáveis pela
falência da empresa, os vilões e seus asseclas planaltinos continuam aproveitando
a vida impunemente, enquanto mais de 700 colegas morreram desde a intervenção
no Aerus, sem resgatar a dignidade de suas vidas. O que me dá esperança, Ministro, é saber que
agora nosso destino está em suas mãos, e como sou testemunha do amor que V.
Excia. nutre pela Justiça meu coração fica mais em paz.
Que Deus
conduza seu mandato e que sua saúde seja revigorada.
Atenciosamente,
Cláudia
Vasconcelos
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