Seria
espanto?
Nunca
acreditei no Collor e seus olhos esbugalhados de metidez e revoltei quando, no debate a candidato a presidente da
república, ele tratou Lula feito reles nordestino sem instrução. Chorei de
raiva, pois eu tinha participado do comício do barbudo operário na Cinelândia.
Naquele dia, fui persuadida que havia uma esperança para a política do país.
Sem rede
social, ainda assim fiz coro nas ruas para o impeachment do proprietário dos
jardins da dinda e suas tramóias com o bigodudo PC Farias. Pois bem, após
defenestrarmos o atlético bonitão, o próximo pleito teria meu voto cravado nos
9 dedos, pois acreditava que um partido de trabalhadores poderia mudar o curso
da história brasileira. Convenci minha mãe a votar, que pela idade nem
precisaria comparecer as urnas, e todos que me davam um pouco de atenção
cívica. No dia da posse, assisti, com
vergonha alheia, Lula e sua mulher dando entrevista ao Bonner. Estavam ambos
visivelmente deslumbrados por estarem nas dependências da emissora platinada, e
aquele não foi um bom sinal. Quem se deslumbra corre o sério risco de querer
pertencer ao objeto de seu desejo não importando os meios para tal. Não precisou
muito tempo para me certificar que “chafurdar no dinheiro público” e fazer
alianças espúrias seriam atos corriqueiros dele e seus asseclas. Principalmente,
quando contávamos com seu apoio para evitarmos a quebra da empresa que
representou o Brasil no exterior por 79 anos. A resposta enfática de Lula foi
que "não é papel
do governo salvar empresa privada da falência”. E nada fez
para evitar a intervenção do nosso fundo de pensão AERUS, levando mais de 10
mil pessoas ao desespero. Hoje, carregamos um caixão com mais de 800 mortos e a
conta é do metalúrgico e sua sucessora. Decepcionada pelo fato da
ingenuidade ser minha parceira constante e ter me conduzido para essa armadilha.
Senti-me traída. Quem mandou acreditar? Mesmo que no segundo mandado eu não
tenha sido sua eleitora, tampouco na eleição de sua teleguiada.
Quem mandou
acreditar que o partido jamais seria inteiro e que o Brasil e seus cidadãos não
faziam parte de seus planos? Educação para que? É muito mais fácil dominar o
povo ignorante. Então, “bolaram” o desvirtuamento da bolsa educação da competente
Ruth Cardoso. E dá-lhe de bolsa. Daí para o desinteresse por emprego, pela
ansiedade em ter mais e mais filhos, pelo crescimento da economia informal etc
foi um pulo.
Saúde? Eu
hein, quem precisa de hospitais, de médicos bem formados, de remédios com preço
acessível, se toda a população tem plano de saúde, mora bem, tem água encanada,
esgoto, alimentação de primeira, emprego garantido e carteira assinada?
Transporte
coletivo? Ou coleta excessiva de dinheiro do cidadão? Passagem? Só se for para aqueles
que aguardam horas em filas absurdas o desrespeitoso transporte de massa para
viajarem apertados feito sardinha em lata, pagando preços extorsivos para se
deslocarem em viagens sacolejantes, com ônibus sem manutenção adequada.
Aviação? Ora,
meus caros, depois de eles sucatearem a aviação brasileira e os aeroportos, contribuírem
para o desrespeitoso tratamento aos clientes desse segmento, vimos um interesse
inaceitável do governo federal em adquirir, ou mesmo financiar a compra, da cambaleante
e quase falida empresa portuguesa TAP. Ó, Ícaro, não ruborize, essas sandices
são coisas desse partido.
Aposentadoria?
Para que? Vá trabalhar, mesmo que a idade já não te permita cumprir com suas
obrigações trabalhistas. Afinal, se aposentar verá que a contribuição de uma
vida transformou-se em merreca. Para que dignidade? Vá reclamar com o bispo.
Segurança? Eu
hein. Pare de reclamar. Isso é típico de velho. Você da cidade do Rio de
Janeiro não tem o que queixar. Mandamos os traficantes, ladrões e outros
meliantes para as cidades próximas, esses assaltinhos daqui nem entram nas
estatísticas.
PEC 37? Limitar
o poder de investigação do Ministério Público tem suas vantagens, é muito mais fácil
“marionetar” as polícias, que estão sob seu jugo.
Agora, me
conte sinceramente, quem merece ter políticos calados nesse momento de ebulição
patriótica, presidente que não toma atitude sem aquiescência do barbudo, pastor
promovendo “cura gay”, mau uso do dinheiro público, corrupção deslavada, salários
e vantagens absurdos dos deputados e senadores, 30 e tantos ministérios,
viagens, hotéis e diárias para os políticos de Brasília etc?
Tenha dó,
enchi o saco, o pote e meu grito se fará ecoar pelas ruas, fazendo coro aos
milhares de brasileiros nas manifestações.
Não se
espante. Quero um Brasil decente para mim. Quero sentir orgulho de meu país.
Brasil, verá
que filha tua não foge à luta.
Cláudia
Vasconcelos 19/06/13