Capa do livro

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quarta-feira, 19 de junho de 2013

Enchi o saco.


                Seria espanto?
                Nunca acreditei no Collor e seus olhos esbugalhados de metidez e revoltei quando, no debate a candidato a presidente da república, ele tratou Lula feito reles nordestino sem instrução. Chorei de raiva, pois eu tinha participado do comício do barbudo operário na Cinelândia. Naquele dia, fui persuadida que havia uma esperança para a política do país.
Sem rede social, ainda assim fiz coro nas ruas para o impeachment do proprietário dos jardins da dinda e suas tramóias com o bigodudo PC Farias. Pois bem, após defenestrarmos o atlético bonitão, o próximo pleito teria meu voto cravado nos 9 dedos, pois acreditava que um partido de trabalhadores poderia mudar o curso da história brasileira. Convenci minha mãe a votar, que pela idade nem precisaria comparecer as urnas, e todos que me davam um pouco de atenção cívica.  No dia da posse, assisti, com vergonha alheia, Lula e sua mulher dando entrevista ao Bonner. Estavam ambos visivelmente deslumbrados por estarem nas dependências da emissora platinada, e aquele não foi um bom sinal. Quem se deslumbra corre o sério risco de querer pertencer ao objeto de seu desejo não importando os meios para tal. Não precisou muito tempo para me certificar que “chafurdar no dinheiro público” e fazer alianças espúrias seriam atos corriqueiros dele e seus asseclas. Principalmente, quando contávamos com seu apoio para evitarmos a quebra da empresa que representou o Brasil no exterior por 79 anos. A resposta enfática de Lula foi que "não é papel do governo salvar empresa privada da falência”. E nada fez para evitar a intervenção do nosso fundo de pensão AERUS, levando mais de 10 mil pessoas ao desespero. Hoje, carregamos um caixão com mais de 800 mortos e a conta é do metalúrgico e sua sucessora. Decepcionada pelo fato da ingenuidade ser minha parceira constante e ter me conduzido para essa armadilha. Senti-me traída. Quem mandou acreditar? Mesmo que no segundo mandado eu não tenha sido sua eleitora, tampouco na eleição de sua teleguiada.
Quem mandou acreditar que o partido jamais seria inteiro e que o Brasil e seus cidadãos não faziam parte de seus planos? Educação para que? É muito mais fácil dominar o povo ignorante. Então, “bolaram” o desvirtuamento da bolsa educação da competente Ruth Cardoso. E dá-lhe de bolsa. Daí para o desinteresse por emprego, pela ansiedade em ter mais e mais filhos, pelo crescimento da economia informal etc foi um pulo.
Saúde? Eu hein, quem precisa de hospitais, de médicos bem formados, de remédios com preço acessível, se toda a população tem plano de saúde, mora bem, tem água encanada, esgoto, alimentação de primeira, emprego garantido e carteira assinada?
Transporte coletivo? Ou coleta excessiva de dinheiro do cidadão? Passagem? Só se for para aqueles que aguardam horas em filas absurdas o desrespeitoso transporte de massa para viajarem apertados feito sardinha em lata, pagando preços extorsivos para se deslocarem em viagens sacolejantes, com ônibus sem manutenção adequada.
Aviação? Ora, meus caros, depois de eles sucatearem a aviação brasileira e os aeroportos, contribuírem para o desrespeitoso tratamento aos clientes desse segmento, vimos um interesse inaceitável do governo federal em adquirir, ou mesmo financiar a compra, da cambaleante e quase falida empresa portuguesa TAP. Ó, Ícaro, não ruborize, essas sandices são coisas desse partido.
Aposentadoria? Para que? Vá trabalhar, mesmo que a idade já não te permita cumprir com suas obrigações trabalhistas. Afinal, se aposentar verá que a contribuição de uma vida transformou-se em merreca. Para que dignidade? Vá reclamar com o bispo.
Segurança? Eu hein. Pare de reclamar. Isso é típico de velho. Você da cidade do Rio de Janeiro não tem o que queixar. Mandamos os traficantes, ladrões e outros meliantes para as cidades próximas, esses assaltinhos daqui nem entram nas estatísticas.
PEC 37? Limitar o poder de investigação do Ministério Público tem suas vantagens, é muito mais fácil “marionetar” as polícias, que estão sob seu jugo.
Agora, me conte sinceramente, quem merece ter políticos calados nesse momento de ebulição patriótica, presidente que não toma atitude sem aquiescência do barbudo, pastor promovendo “cura gay”, mau uso do dinheiro público, corrupção deslavada, salários e vantagens absurdos dos deputados e senadores, 30 e tantos ministérios, viagens, hotéis e diárias para os políticos de Brasília etc?
Tenha dó, enchi o saco, o pote e meu grito se fará ecoar pelas ruas, fazendo coro aos milhares de brasileiros nas manifestações.
Não se espante. Quero um Brasil decente para mim. Quero sentir orgulho de meu país.
Brasil, verá que filha tua não foge à luta.

Cláudia Vasconcelos       19/06/13