Capa do livro

Capa do livro

sábado, 8 de setembro de 2012

Porque recomendo.


BILL DOG
Ao dar os primeiros passos em direção a bilheteria do Teatro Municipal Café Pequeno, eu fui abordada por uma mulher de uns 40 anos. Perguntou-me se eu iria assistir a peça, com a resposta afirmativa indagou-me se eu não tinha ingresso sobrando.  -Não, não tenho. -Estranhei.
Após pegar os dois convites, ainda permaneci alguns minutos em frente ao teatro. Ali, tive a oportunidade de presenciar a mesma mulher “atacar” insistentemente todos os que chegavam com a mesma pergunta.
Os olhares do porteiro, segurança e bilheteira eram inequívocos: eles estavam tão surpresos quanto eu com a atitude da desconhecida, que balançava as pernas e cabeça entre um pedido e outro. O vestido dela de estampa chamativa oscilava a cada movimento, bem como os cabelos lisos de tamanho mediano.
Sem aguardar o desfecho, entrei no teatro. O diretor da peça Bill Dog, Guilherme Leme, gentilmente havia reservado a primeira mesa para mim. Instalei-me ali, para em seguida solicitar uma tábua de frios – esse é o grande diferencial dos demais teatros: um bar que serve os espectadores com comidas e bebidas de qualidade e atendimento primoroso dos garçons.
O teatro de quase arena estava lotado, mas ao término do segundo aviso sonoro vi a figura estranha adentrar o ambiente. Tinha conseguido seu intento.
O músico Márcio Tinoco entrou com chapéu, sentando-se com seu violão na cadeira lateral ao palco. O ator Gustavo Rodrigues apareceu em cena totalmente vestido de preto: sapatos, calça, camiseta e gabardine. Daí em diante, tudo que se tem de adjetivos para descrever uma atuação brilhante não preenche o domínio das técnicas de encenar, a figura eletrizante, os gestos estudados que cumprem a risca seu papel, os sons emitidos, o suor em profusão, o absoluto controle do texto, o exato timing de cada fala e olhares, enquanto Márcio Tinoco toca com seu violão cada marcação da peça.
Genial! Genial em todos os segmentos quer seja a direção espetacular de Guilherme Leme – que vem dando banho em sua segunda atividade, pois como ator é referência -, como a atuação irretocável de Gustavo Rodrigues, além da trilha sonora, iluminação, etc. Ou seja, uma peça que não se pode deixar de assistir. Não à toa que é um hit cult londrino.
Terminada a apresentação, público em delírio e em pé aplaudindo. Eis que surge ela, a criatura entrona, bem em frente a mim. Novamente com espanto a escuto perguntar se ela poderia comer os frios que haviam sobrado na tábua. Estupefata, concordei. Testemunhei a mulher engalfinhar-se no salaminho. Assustada com tal despautério, saí da mesa para cumprimentar e agradecer a Guilherme. No trajeto, constatei que a sujeita com a boca ainda cheia atracou-se nos salgadinhos que sobraram de outra mesa, além de pegar um copo meio cheio de vinho e sorvê-lo com cara de deleite, misturado ao olhar de “pouco se me dá” para os circundantes.
É, naquele sábado, 1/9/12, assisti o inusitado. A tresloucada – ou sabidona? – “comer” a peça Bill Dog, que é uma peça inigualável,  a qual eu comi com meus sentidos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário