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terça-feira, 24 de julho de 2012

Entrevista de Fernando Pinto ao Mercado e Eventos

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O Brasil ainda não pagou até hoje a conta pela falência da Varig  
13/07 - 12:09
Por: Luiz Marcos Fernandes


Depois de 12 anos no cargo, que serão completados em outubro deste ano, o engenheiro Fernando Pinto, presidente da Tap - maior aérea portuguesa - aguarda a privatização da companhia para encerrar seu ciclo à frente da mesma. Na opinião dele, este processo será benéfico para a empresa, pois lhe dará maior lastro de capital. No balanço de sua gestão, Fernando Pinto destaca os resultados alcançados e que tiveram como âncora a estratégia de apostar nos mercados do Brasil e África, além de transformar Lisboa no hub da Tap.

Já em relação ao mercado da aviação no Brasil, o dirigente vê com boas perspectivas a criação da Latam, bem como o consórcio entre Trip e Azul. Mesmo com o crescimento da Tam, Fernando Pinto, que em sua trajetória profissional esteve à frente da Rio-Sul e da Varig, antes de assumir a Tap, lamenta os prejuízos causados pela falência da antiga Varig e que, segundo ele, ainda refletem na perda de mercado do Brasil, principalmente no cenário internacional. Confira aqui sua entrevista.

M&E – O senhor completa em outubro 12 anos na presidência da Tap, uma empresa que enfrentava, na ocasião, sérios riscos de fechar suas portas. Que balanço faz de sua gestão e qual estratégia que levou a companhia a se recuperar?

Fernando Pinto –
 De fato encontrei a Tap numa situação bem crítica, mas tinha certeza de que com a estratégia comercial e de planejamento adequada poderíamos recuperar a empresa. E isso veio a acontecer. Considero que ao longo de todos esses anos tem sido um desafio importante. Entre os aspectos que merece destaque está a consolidação do hub de Lisboa e a estratégia de apostar em mercados como o Brasil e África. Para se ter uma ideia, apesar de continuarmos a ter o nosso foco principal na Europa, que responde por pelo menos 60% das nossas operações, temos atualmente 70 frequências semanais para a África e 74 para o Brasil, mostrando o quanto esses mercados foram importantes e comprovando, pelos resultados alcançados, que foi uma decisão acertada e que ajudou muito na recuperação da companhia, uma vez que permitiu a interligação destes dois continentes com os países europeus.

M&E – O processo de privatização da Tap parece ser mesmo inevitável, a exemplo do que ocorreu com outras companhias. E o que acha de uma fusão com outra companhia? Como vê os benefícios deste processo que despertou até o interesse da Avianca Brasil?

Fernando Pinto –
 Acho que o processo de privatização será benéfico, pois é uma fonte de capitalização que pode certamente vir a fortalecer a companhia. Apesar de termos tido bons resultados, o nosso lastro de capital é ainda muito baixo e certamente a privatização da empresa poderá contribuir para fortalecer a Tap. O caminho deste processo ainda não está definido. Hoje em dia você vê modelos de fusão e esta também pode ser uma alternativa. Há muitas variáveis a se considerar. Soube que a Avianca Brasil fez uma sondagem, mas seria prematuro falar em interesse de compra, pois as regras ainda não foram definidas. O importante mesmo em tudo isso é que haja o maior número possível de interessados. Isso sim é importante, porque desse modo, a Tap poderá escolher o que for melhor para o futuro da companhia.

M&E – E por falar em futuro. O senhor, que está há mais de uma década à frente da Tap, teria interesse em continuar após o processo de privatização?

Fernando Pinto –
 Como eu disse, as regras não estão definidas. Mas mesmo assim o meu pensamento é deixar a presidência da Tap assim que o processo estiver consolidado. Creio que já dei minha contribuição. Quanto ao meu futuro eu também não decidi nada ainda. A única certeza é de que não tenho planos de continuar à frente da Tap.

M&E – A crise econômica certamente afeta diretamente a aviação comercial. Como a Tap vê a situação na Europa e quais os caminhos alternativos para não ser afetado pelo impacto desta crise?

Fernando Pinto –
 Não há como não deixar de ser afetado pela crise. Ela afeta todos os setores da economia, incluindo a aviação, tanto no mercado de lazer quanto negócios. Temos procurado acompanhar de perto o desenrolar dessa crise e acredito que possamos mesmo nesta turbulência manter nossas taxas de crescimento, com maior realismo, é claro, e sem euforia. Um dos fatores que me faz acreditar nisso é o preço do combustível de aviação que não foi tão afetado até agora. O importante é procurar ter uma estratégia apostando em mercados menos afetados como o próprio Brasil, sem abandonar nossas operações para os demais destinos.

M&E – E em relação ao Brasil, desde a crise e falência da antiga Varig que a aviação comercial ainda procura ocupar seus espaços. O senhor acredita que ainda pagamos um alto preço pelo modo como se deu o processo de interrupção dos voos da Varig?

Fernando Pinto – 
Eu diria que ainda não acabamos de pagar essa conta. Apesar de reconhecer o excelente trabalho realizado pela Tam na sua estratégia de expansão para o mercado internacional, é inevitável observar que o Brasil ainda não conseguiu retomar a posição de destaque que tinha no mercado internacional e nem restabelecer as rotas que a antiga Varig operava. O resultado de tudo isso é que o Brasil recebeu desde então menos turistas e perdeu em divisas. Não se pode querer restabelecer um mercado construído ao longo de quase sete décadas, de uma hora para outra. É um longo caminho e ainda pagamos pelos erros do passado. A própria Tap se aproveitou do mercado do Nordeste que estava praticamente esquecido para explorar suas rotas obtendo excelentes resultados.

M&E – Como o senhor vê o futuro da aviação comercial no Brasil, que apresenta um novo desenho com fusões e consórcios como a criação da Latam e, mais recentemente, da Azul com a Trip?

Fernando Pinto –
 Eu acho que esse é o processo natural das coisas. As empresas aéreas estão buscando alternativas para reduzir seus custos e ao mesmo tempo obter maior representatividade e também um número maior de operações. Acho que há espaço para isso ainda mais num país de grandes dimensões continentais. A própria aviação regional é um segmento que ainda tem muito para crescer e num futuro próximo pode ter perfeitamente voos com destino a países de fronteira. O Brasil mudou sua imagem no exterior e é visto como um país emergente. Os megaeventos como Copa e Olimpíadas exigem que se tenha também uma infraestrutura adequada e, neste quesito, entram a melhoria dos aeroportos com as concessões ao setor privado. É capital que entra para novos investimentos e quem ganha com tudo isso é o consumidor.

M&E – A entrada de novas companhias na Star Alliance, como a AviancaTaca e a Copa Airlines, significa uma nova tendência de mercado onde as empresas procuram ampliar seu leque de atuação?

Fernando Pinto –
 Certamente que sim. Afinal de contas, ganham as empresas que têm maior poder de operação e redução de custos e ganham também os passageiros que podem usar milhas compartilhadas e voos de conexão. Outras empresas já estão em processo de análise para ingressar na Star Alliance, que atualmente forma uma aliança com algumas das principais companhias aéreas mundiais.

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